Ecos da Docência – Jornal Mundo Jovem

No filme “O Sorriso de Monalisa” fora proferida uma frase: “Compensava intelectualmente o que lhe faltava em prestígio”, relatando a história profissional de uma docente que queria propor a reflexão às alunas acerca da submissão da mulher na sociedade androcêntrica que vivemos.

Esta frase coube na situação da profissão docente, pois além do que objetivava no filme, apresentou também a busca incessante pelo questionamento para uma autonomia do professor em resposta aos ditames sociais, como: as precárias condições de trabalho, irrisória remuneração, baixo status e a culpabilização de todos os problemas da educação – ideologia compartilhada para satisfazer os mais diferentes interesses (econômicos, políticos, culturais, sociais, entre outros).

Características e Desafios

Às vésperas do vestibular, muitos estudantes recorrem a objetivos diversos para adentrar no âmbito acadêmico e veem nas licenciaturas um meio “facilitado” para tal, pois em relação a outros cursos, o magistério ainda tem um grande número de vagas, uma pontuação de alcance relativamente baixa, uma projetância de trabalho bem mais rápida, envolvendo e, muitas vezes, mitificando o imaginário dos futuros graduados.

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O fato é que ao ingressar na universidade ou sendo egresso desta, muitas pessoas desistem do magistério, por verificarem a falta de reconhecimento social e as condições de trabalho que os professores enfrentam cotidianamente.

Podemos confirmar o que fora dito através dos relatos de professores:

  • “- Eu só queria passar no vestibular pra trocar de curso lá dentro. Queria mesmo era fazer medicina ou direito que dão mais dinheiro”. (professor 1).
  • “- Eu já trabalho há dois anos em escola e vou fazer concurso para outras instâncias, mudar de área, pois ganha mais do que eu, fora que as pessoas admiram mais”. (professor 2).
  • “- Eu trabalho em três esferas para poder sobreviver (estadual, municipal e particular); não aguento mais, não trabalho direito em nenhuma, não tenho tempo para pesquisar, estudar e minhas aulas acabam sendo reproduções, pois é muito aluno e fico muito cansado, mas preciso trabalhar”. (professor 3).
  • “- Eu só queria ganhar mais, trabalhar em condições melhores, ter status… meu refúgio é procurar a educação continuada, mas as universidades públicas são muito corporativas e não dão muita oportunidade a quem não se afina com alguns docentes. Por isso, tenho que trabalhar muito para guardar uma determinada quantia, a fim de fazer pós-graduação em uma universidade particular, pois acredito que assim serei melhor visto em minha profissão,além de aumentar um pouco o salário”. (professor 4).
  • “- Um dia encontrei um amigo que há muito tempo não o via; ele me perguntou no que eu estava trabalhando e eu respondi que era professor. Ele interpelou-me, então, questionando no que eu havia me formado e quando começaria a trabalhar. Logo, eu pensei que a docência está tão sem reconhecimento social que ser professor nem é mais considerada uma profissão. Fiquei indignado e pensando em abandonar”. (professor 5).

Verifica-se, portanto, diante das narrativas dos docentes, as idas e vindas na trajetória do professorado e o quanto esse ser professor é desvalorizado e simultaneamente, colocado a questionamentos sobre os rumos da educação. São sonhos em constante (des) construção pelos quais os docentes lutam, persistem, querem e precisam ter e realizar, embora existam outros tantos envelhecidos, abandonados pelos percalços no caminho do professor, gerando desilusões, desistências, conflitos, perdas.

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Perspectivas

Apesar de tantas desesperanças e pontes a transpor em torno da carreira docente, observa-se a luta da maioria em se fazer escutar, através de iniciativas, como os projetos e eventos criados no interior das escolas, com o intuito de discutir e refletir com os alunos, pais e demais funcionários as situações sociais atuais que impõem seu poderio de menosprezo à educação e a seus profissionais.

Outros, por sua vez procuram condições de autonomia, por meio de estudos continuados, a fim de não ficarem alheios a discussões que interferem no ensino e educação.

Urge, então, que as políticas públicas para a educação sejam discutidas, pesquisadas, refletidas, respeitadas e efetivadas pelos reais/diretos profissionais envolvidos e maiores interessados na questão do ensino e educação: os professores, pois são os que de fato sabem as necessidades existentes dos alunos, da escola, de si, e as melhorias a se realizar na educação. É o professor que tem uma tarefa social muito arriscada (o ensino) e poderes nas mãos (formação e conhecimento).

Dar voz a quem atualmente apenas sussurra é o desafio a superar.

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